Primazia e recência

Texto publicado hoje no Jornal do Centro 

     Imagine um inquérito em que pergunta às pessoas: “o que mais gosta de Viseu?” e que, a seguir, dá uma lista com dez hipóteses de resposta a essa pergunta tão importante. 
     Imagine ainda que esse inquérito consegue um número suficiente de respostas de uma amostra bem estratificada por idade, habilitações académicas, sexo, residência, ...

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     Parabéns! Você é um cientista social está pronto para ir tirar uma pós-graduação a qualquer lado. Por exemplo, a Paris.
     Passe agora à fase seguinte: estudo das respostas, tratamento matemático e conclusões.
     Ups! Viu o que lhe aconteceu? A grande maioria das pessoas ou escolheu as duas primeiras opções ou as duas últimas. Está admirado? Pois não devia estar: proporcionar uma lista tão grande de respostas possíveis causa efeitos indesejáveis.
     Há inquiridos que lêem as primeiras hipóteses, optam por uma delas, e já não querem saber das seguintes — chama-se a isso “efeito de primazia”.
     Outros lêem as opções todas mas, chegados ao fim, já não se lembram das primeiras, só se lembram das últimas e escolhem uma delas — chama-se a isso “efeito de recência”.

     Escrevo este Olho de Gato no início da semana. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas andam a tratar-nos da saúde mas dessas conversas, para já, há pouco eco mediático. O que, por enquanto, todos os jornais falam é de Assis e Seguro. Diz o jornal Público desta segunda-feira: “Em três dias, o frenesim disparou no PS”. Isso é verdade.
     Ora, a guerra-relâmpago que António José Seguro está a fazer no aparelho socialista faz lembrar o “efeito de primazia”, pois leva de arrasto as primeiras respostas de um número muito grande de militantes.
     Francisco Assis vai ter dificuldades para inverter as coisas, mais para a frente, quando tentar usar o “efeito de recência”.

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