Cavaco e a moeda forte

     «(...) em termos de equilíbrio externo os resultados foram muito positivos, com o défice da balança de transacções correntes a atingir 4% do PIB em 1978 — uma redução para metade face ao ano anterior — tendo praticamente atingido o equilíbrio em 1979.»

Ministro das Finanças de 3.1.80 a 9.1.81
     «O défice viria a agravar-se em 1980, quando o governo em funções por razões de calendário eleitoral, adoptou uma política orçamental expansionista, combinada com uma subida generalizada dos salários e uma revalorização da moeda.
     Estas medidas permitiram um aumento do poder de compra tanto interno como externo, mas trouxeram de novo o desequilíbrio face ao estrangeiro. Depois do esforço dos dois anos anteriores, tudo se desfaria (...)»


in Economia Portuguesa
As Últimas Décadas,
Luciano Amaral, Ed. FFMS, p. 33


      Cavaco Silva disse, anteontem, que "gostaria que o euro fosse mais fraco".
     Houve logo um coro grego a apoiar a ideia do presidente desde o bloco a António José Seguro, passando por Pedro Passos Coelho. Assis destoou e ainda bem.
     Importa dizer que:
     1. A ideia do presidente é irrelevante: o euro é forte porque os mercados estão a fugir do dólar e fugirão cada vez mais enquanto os Estados Unidos continuarem a tipografar dinheiro irresponsavelmente, num processo a que chamam "quantitative easing".
     2. A eventual descida do euro não era boa para Portugal: importava inflação e só beneficiava os países exportadores da Mittleeuropa e não os PIGS.
     3. Se o euro desvalorizasse, havia um aumento forte da inflação que erodiria o poder de compra dos salários e das pensões. Isso facilitaria a vida a Pedro Passos Coelho e à sua agenda ideológica. Explicar isso ao bloco de esquerda ou a António José Seguro é que é difícil.
      Conforme bem lembra Luciano Amaral no seu livro, Cavaco Silva em 1980 valorizou o escudo  e a coisa correu mal: teve que vir a seguir o FMI para consertar as contas públicas. 
     Agora Cavaco quer o contrário: que o euro desvalorize. Não parece que o senhor Trichet e a senhora Merkel lhe vão ligar grande coisa. E ainda bem.

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