Dar o salto *

* Texto publicado no Jornal do Centro em 25 de Abril de 2008, sobre um tempo que, afinal, regressou outra vez
    
1. No Centro Cultural de Belém está patente a Exposição “Gérald Bloncourt, Por uma vida melhor”, dedicada à vida dos portugueses que emigraram para a França, na década de 60.
     
Quando tinha 20 anos, o fotógrafo Gérald Bloncourt foi expulso do seu país, o Haiti, e teve que se exilar. Por isso, percebeu sempre bem o sofrimento de quem tem que ganhar a vida num país estrangeiro.
    
Foi o caso de muitos emigrantes portugueses que foram atirados para as “bidonvilles”, literalmente, “cidades de bidões”. 

Gérald Bloncourt retratou essa gente em fotografias magníficas.

     
2. Muitos ex-emigrantes, com quem nos cruzamos hoje nas ruas de Viseu, foram uns autênticos heróis.
     
Emigrar implicava muitas vezes ter que vender as últimas terras, ou ficar endividado, e partir para um país desconhecido com uma língua estranha. Quando não havia documentos, as fronteiras eram atravessadas a pé. Nos Pirinéus era particularmente duro e perigoso. Chamava-se a esta aventura “dar o salto”. E “dar o salto” significava ficar exposto aos abutres porque, quando há pessoas em perigo, há sempre abutres. 


 
    
Nesta Exposição do CCB pode ver-se um documentário de 2002, de José Vieira, que se chama A Fotografia Rasgada, em que os emigrantes, ao contarem as suas vidas, contam também como pagavam aos “passadores”, os homens que sabiam os truques para “dar o salto”.
     
O emigrante rasgava ao meio uma fotografia sua. Ficava com uma parte e dava a outra ao “passador”. Quando, finalmente, o nosso emigrante chegava a França, enviava para cá, numa carta, a sua metade da fotografia. Só então é que a família, depois de completar o puzzle com as duas partes da fotografia, pagava ao “passador”.

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