Do sofrimento *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



     1. “Os Descendentes” ...

      ... é um filme em exibição protagonizado por George Clooney que faz uma personagem, Matt King, que vê desabar o seu mundo quando a mulher tem um acidente de barco e fica em coma irreversível.
     É um filme para gente crescida sobre o amor, o ciúme, a doença, o dinheiro, a educação dos filhos. Matt tem duas filhas a precisarem muito dele e o filme trata, acima de tudo, disso: do trânsito das gerações, desse mistério material, táctil, espiritual, feito de inseguranças e instinto, que não é exclusivo dos animais humanos, e que assegura a continuidade das espécies.
     No meio da tempestade perfeita em que se tornou a vida de Matt, há um problema que o estado do Hawai — onde se passa a acção do filme — lhe resolveu. Matt não teve que tomar a decisão de desligar a mulher das máquinas já que ela tinha feito um “testamento vital”, aceite pelo estado, em que ela recusava para si própria qualquer obstinação terapêutica sem esperança.
     Em Portugal já se fazem em notário “testamentos vitais”, documentos que têm valor ético mas não jurídico. O assunto arrasta-se, infelizmente, há tempo demais nas entranhas da assembleia da república.

     2. François Hollande, o provável sucessor de Sarkozy na presidência francesa, acaba de propor que “todos os adultos num estado avançado ou terminal de uma doença incurável, doença que esteja a causar um insuportável sofrimento físico e psicológico e que não possa ser tratada, possam requerer, sob estritas e específicas condições, assistência médica para terminar a sua vida com dignidade.”
     Como Hollande tem sido escorregadio como as enguias em todas as matérias, o lançamento do tema eutanásia na campanha foi uma surpresa. De qualquer forma, a eutanásia tem que ser debatida em todas as sociedades decentes. Para quando também em Portugal?

Comentários

  1. A escolha do filme revela bom gosto! A questão da eutanásia revela humanidade e bom senso.
    Abraço.

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  2. Isso mesmo, Miguel Fernandes, uma questão de "humanidade e bom senso".
    Abraço e bom fim-de-semana

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