Brincar com o fogo

     Pedro Passos Coelho decidiu fazer férias no Algarve, no sítio do seu costume: a praia da Manta Rota.
     Este pequeno factóide deu origem a um jogo perigoso na blogosfera e nos media, com toda a gente - televisões incluídas - a criarem suspense acerca do que iria, ou não, acontecer nos areais, qual iria ser a reacção dos banhistas.
     O blogue dos ex-assessores socráticos começou por apostar que o primeiro-ministro não teria coragem de pôr os chanatos na areia e, depois de ele ter aparecido, passou a criticá-lo por ir acompanhado de  "corporações" de guarda-costas.
     Do lado dos apoiantes do governo, "blasfemou-se" contra o secretismo pretérito das férias de Sócrates, gabou-se o desassombro e a coragem de Pedro Passos Coelho em ir molhar os calções, em pleno Agosto, a uma Manta Rota cheia de povo.
     Tanto de um lado como do outro, a mesma lógica estúpida: "o meu político é menos execrado do que o teu", quando não o linear e ainda mais estúpido: "o meu político é adorado, o teu  é execrado."
     Este "pensamento" habita a cabeça dos assessores governamentais presentes, passados e futuros, e os jornalistas de política ou partilham o mesmo universo mental (às vezes parece...) ou precisam destes maniqueísmos de pacotilha para irem enchendo chouriços noticiosos.
       Quem ainda tem paciência para acompanhar a espuma da política portuguesa rapidamente dá conta que há para aí muitas "cabeças" falantes a ansiarem que aconteça algo, a lamentarem porque nunca mais chega às ruas a barbárie anunciada, a prognosticarem que, conforme se diz no belíssimo poema de Cavafis, talvez a chegada dos bárbaros resolvesse alguma coisa.
     Muito se escreve e se diz e teoriza sobre o "conformismo" da rua lusa em contraponto com a "combatividade" da rua grega.
     Ora, tudo o que é dito nesse sentido está a deitar gasolina para o fogo que vai queimando a terceira república.
     A continuar-se assim, num futuro mais próximo do que se julga, nenhum político de nenhum partido poderá sair à rua sem correr o risco de ser molestado. E nem todos vão poder ter guarda-costas.
     Fica uma pergunta final aos aprendizes de feiticeiro: quando os políticos perderem a sua liberdade de movimento, imaginam o que vai acontecer à liberdade de movimento dos cidadãos?

Comentários

  1. Muito pertinente o que diz e como o diz!
    Só se lamenta que tudo contínue na mesma para pior e que ninguém da classe politica queira sair da mediocridade e do reger da sua vidinha para fazer perguntas não retóricas a quem de direito e ZELAR pelo bem estar dos cidadãos de PORTUGAL. Se os Políticos que existem nada fizerem restarão somente os carregas pastas e esses como não políticos mas vendedores da banha da cobra arriscam-se a tratamentos cada vez menos simpáticos por parte de todos nós que ainda sabemos distinguir quem vem por bem!

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