Ciúme *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

     
A banda sonora desta crónica é a canção de John Lennon “Jealous Guy”, em que ele confessa à sua mulher Yoko Ono ser um “gajo ciumento”. 




     
É um bom som para as duas histórias de ciúme que se seguem e para o algoritmo final.
      
Achilles Brito, dono da conceituada firma Ach. Brito, que fornece ao mundo o sabonete Patti e muitos mais e igualmente bons, Achilles Brito, o patriarca fundador, ou o filho com o mesmo nome, ou o neto, nome transvirado em Aquiles por evolução ortográphica, não sei qual deles já que conto esta história com memória insegura nos detalhes, li-a em qualquer lado não sei onde, nem o senhor Google que sabe quase tudo sabe dela, Achilles Brito, dizia, perdidamente apaixonado pela sua mulher, linda como uma deusa, que ele precatava em casa, sempre em casa, dos olhos cúpidos da Invicta cidade, ela, violoncelista de topo, um dia aprazou um concerto num teatro da cidade, concerto anunciado em todo o lado e, vai daí, Achilles, homem de cabedais, achegou-se à bilheteira e comprou todos os bilhetes, para ser só ele e ninguém mais do que ele a “ouver” a sua exclusiva e linda mulher.

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Baqari, um homem influente de Sidon, cidade no sul do Líbano, não deixava que a sua mulher saísse à rua sozinha nem suportava que outros homens pudessem olhar para ela.


Quando ele soube que a sua esposa tinha ido tirar dois retratos ao estúdio de Hashem El Madani, chegou lá furioso a exigir os negativos. Madani recusou, aceitou só riscá-los com um alfinete. Anos depois, Baqari foi ao estúdio pedir ao grande fotógrafo libanês para imprimir fotografias a partir dos negativos riscados. É que ela, para finalmente se escapar do marido, tinha-se suicidado. Ele, roído de saudade, não se importava que as fotografias da sua mulher estivessem estragadas. O que Baqari queria era poder olhar para ela outra vez.
   
Ciúme + tempo = arrependimento.

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