Monólitos*

* Texto publicado no Jornal do Centro em 2 de Janeiro de 2009

     
1. O monólito que aparece em 2001, Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, é um enigma. Aquele paralelepípedo negro é Deus? É a Energia? O que é?
  
A sequência inicial do filme chama-se A Aurora do Homem. Nela vêem-se uns macacos que, nas suas macaquices, descobrem um monólito negro. A partir desse instante, o líder deles consegue fazer o seu primeiro acto inteligente: usar um osso como arma. Fica capaz de matar presas e conquistar território.
     
Na alegria da vitória, o macaco, que afinal é o primeiro homem, atira o osso-arma ao ar. 


     

Milhares de anos de conquistas da inteligência humana são condensados naqueles cinco segundos em que, na subida, o osso dá voltas e voltas sobre si mesmo até se transformar numa nave espacial.

Fotografia Olho de Gato
2. O edifício da segurança social é o maior monólito de Viseu. 

É mal amado; muita gente chama-o mamarracho.

Nos tempos em que se julgava que éramos um país rico, falou-se em implodi-lo ou em amputá-lo de cinco andares.

Agora já ninguém fala disso. 

A arquitectura deixou-se de ornamentices pós-modernas. As construções são outra vez minimais, despojadas, funcionalistas. Basta ver as casas da classe média feitas nos últimos anos.
     
O nosso monólito da segurança social é um digno exemplar arquitectónico do estilo internacional. É a marca em Viseu daquela época da história da arquitectura mundial. Além disso, a sua geometria sintoniza-se com os tempos austeros que vivemos.

     
3. Caminhar em cima da passadeira de monólitos de granito que puseram na Cava de Viriato é um perigo. Cuidado! Muito cuidado!
     
Eis como começam todos os diálogos entre as pessoas que por lá passeiam:
     «Viva! Então que acha disto?»
     «Fizeram aqui uma boa trampa...»

Comentários

  1. Os monólitos em Viseu multiplicaram-se como matrioskas.Ele são os pinos, os pilaretes e outros de feições mais animaloides. Têm em cumum o não se mexerem por si (com um sopro já mexem) e fazerem sombra.Por regra demarcam o território, e só saem empurrados.
    O comentário de quem os paga acaba sempre da mesma maneira:
    Não há meio de tirarem daqui esta ...da

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