Slavoj Žižek*

* Publicado hoje no Jornal do Centro

1. O filósofo esloveno Slavoj Žižek é uma celebridade mundial. Ele escreve muitos livros, muitos artigos, entra em filmes, gosta de contar histórias divertidas e adora chocar. Escreveu uma vez este arrepio: “Hitler não foi radical suficientemente.”

Encontra-se com facilidade no YouTube a sua intervenção, em Outubro de 2011, a dar apoio ao Occupy Wall Street. 

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É um vídeo mais interessante na forma que nas ideias. Estas podem ser aprofundadas no livro “O Ano Em Que Sonhámos Perigosamente”. Esse onírico ano foi, claro, o de 2011, ano da primavera árabe e dos Occupy.

No vídeo, Slavoj lê uma frase, a multidão repete-a a seguir em coro; lê outra frase e o coro repete-a; nova frase, nova repetição; por aí fora... Aquele coro é para substituir a amplificação sonora que está proibida pela polícia. Mesmo sabendo-se isso, aquilo resulta numa missa estranha, com os fiéis a repetirem as palavras do mestre.

Slavoj Žižek fala de desenhos animados, gesticula, coça-se, anuncia o divórcio entre a democracia e o capitalismo, lembra que os comunistas com poder, como é o caso dos chineses, são afinal os capitalistas mais eficazes e mais duros. Nós temos exemplos por cá dessa eficácia: os prodigiosos Pina Moura e Mário "jamé" Lino.

No fim, o intelectual esloveno deixa os Occupy pendurados. Sem ideias. No livro, também zero ideias para o futuro. A “solução” alternativa que ele avança para “o sistema representativo multipartidário” é a “ditadura do proletariado”. Uma pescadinha-de-rabo-na-boca autoritária que a primeira coisa que faria era limpar as praças dos Occupy.

2. Eis as três condições para a felicidade, segundo Slavoj Žižek: (i) terem-se bens materiais básicos disponíveis mas não em excesso; (ii) ter-se algo em que sonhar não completamente inacessível; (iii) ter alguém a quem imputar tudo o que corre mal.

Repare-se: temos todas as condições para sermos felizes. Até temos o “alguém” culpado de todos os nossos males. Chama-se Angela Merkel.




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