Europeias (#2) *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro

1. A União Europeia aos poucos vai-se democratizando. As eleições deste ano, pela primeira vez, vão servir também para eleger o presidente da comissão. Há cinco candidatos ao lugar: Martin Schulz, Jean-Claude Juncker, Guy Verhofstadt, Ska Keller e Alexis Tsipras.

Os nossos media só falam da desorientação de Rangel e da moleza de Assis. A retórica dos nossos políticos é feita como se a “Europa” terminasse em Vilar Formoso. Ninguém ligou nada ao debate de 15 de Maio entre os cinco candidatos ao lugar ocupado na última década por Durão Barroso. À cautela, aquilo até foi metido num canal da RTP sem audiência.



O debate foi muito bom e foi ganho pela clareza e acutilância do liberal Guy Verhofstadt, seguido de perto pela ecologista Ska Keller. O social-democrata Martin Schulz mostrou também solidez e bom-senso. Já o conservador Juncker tem o carisma de uma marmota constipada, enquanto o esquerdista Tsipras, o pior dos cinco, é oco.

2. Como dizem todas as sondagens, os populismos de esquerda e de direita vão subir por essa "Europa" fora, impulsionados pelo voto dos excluídos e dos derrotados da crise.

É que o Erasmus é bom, o espaço Schengen um descanso, o roaming agora é barato. Mas, e quem não se pode deslocar?
Mas, e as decisões tomadas nas costas do eleitorado? E o autocrata Orbán à solta na Hungria? E o desempoderamento dos jovens? E a imigração? E a incompatibilidade crescente entre as duas “Europas”, a da eurozona e a do eurocepticismo britânico? E a subtracção do poder orçamental aos parlamentos nacionais do euro?

Nenhuma destas questões, todas determinantes para o nosso futuro, teve qualquer espécie de debate cá. Desde 1994, a abstenção nas europeias ultrapassou sempre 60 por cento. Será que, desta vez, passa dos 65?

Resta dizer que não sei como se possa votar em Guy Vehrofstadt ou em Ska Keller. Votar Aliança Portugal é votar Juncker; votar PS é votar Schulz; votar bloco é votar Tsipras.

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