Mentiras infladas *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro



1. George Steiner, quando esteve a trabalhar como professor convidado na China, foi visitar os guerreiros de terracota de Qin Shi Huang, o primeiro imperador chinês. É um sítio formidável: há ali enterradas entre dez a doze mil estátuas de guerreiros, todos com expressões faciais diferentes, feitos com "terra assada" a baixas temperaturas, a tal "terracota", formando um monumento funerário único.

Ora, como indagou Steiner junto da equipa de arqueólogos responsável, foram deixados bastantes guerreiros à mostra para estudo e visita, mas a maior parte foi novamente tapada com terra, não tendo sido feito sequer um registo fotográfico deles.

Steiner perguntou porquê e responderam-lhe: “As estátuas que já vimos são tão bonitas e satisfazem a nossa necessidade científica e imaginação. Deixemos às futuras gerações o prazer de encontrar as restantes. Dizemos-lhes onde estão e isso é suficiente para nós.”

Não conheço história mais distante do espírito ocidental, da sua curiosidade impaciente e, tantas vezes, predadora.


Pinóquio — Acert
Fotografia de Zé Tavares
2. Em Dezembro de 2003, quando liderava a oposição ao dr. Ruas na câmara de Viseu, tive que lhe chamar, em comunicado de imprensa, “Pinóquio de bigode e com nariz inflado”, por causa da forma como ele descreveu um acontecido numa sessão camarária.

Agora, em Janeiro de 2015, os actuais vereadores do PS, em comunicado de imprensa, tiveram que chamar "mentira" à forma como António Almeida Henriques descreveu um acontecido no Bairro da Cadeia.

Na sessão de câmara seguinte, o dr. Ruas chegou, cumprimentou-me, sorriu, e deu início aos trabalhos. Já António Almeida Henriques, na sessão de câmara seguinte, fez cara de caso, virou-se para os vereadores socialistas e ameaçou-os com uma participação ao Ministério Público.

Como se sabe, quanto mais fraco é o poder político mais ele tende a pedir ajuda ao poder judicial.

Comentários

  1. "O silêncio pode ser muito barulhento" – José Mourinho (esse mesmo, o treinador)

    1. O Paulo Macedo vem defender que conseguiu um acordo melhor do que os outros países europeus, é o mesmo tipo que ficou indiferente à morte de portugueses (durante meses), gélido no olhar para quem o acusou de “deixar morrer as pessoas”. É o mesmo que considerou que o caos nas urgências foi porque: ”se reformaram muitos médicos”.
    O silêncio do PS em relação a este senhor é tão conveniente!!!

    “If I Had A Hammer” cantavam Peter, Paul e Mary, com um “hammer of justice” o que eu faria….

    2. George Steiner é um dos mais importantes pensadores actuais, ponto!
    Steiner tem refletido sobre a Europa e a sua definição. E é curioso que uma das característas que nos distingue, enquanto europeus, são os cafés: “A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Desenha-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da «ideia de Europa». Como eu me identifico com esta ideia!

    Mas há horizontes negros na Europa e avisa-nos que «Se o silêncio acabasse por chegar de novo a uma civilização em ruínas, seria um silêncio duplo, clamoroso e desesperado pela recordação da Palavra.»
    Silêncio que eu tenho medo se precipite sobre o projecto europeu.
    A Europa (com a Alemanha à cabeça) não sabe no que se está a meter. Mas os Russos vão ser bons explicadores. Esta estratégia suicida da Europa vai conduzir a implosão da União Europa. O regresso às pátrias está à beira de acontecer.
    E continuo sem entender qual é a posição dos socialistas europeus neste problema da Grécia. Será que continuam a ser socialistas às 2ª 4ª e 6ª e depois não sei o quê às 3ª 5ª e sábados? Enquanto os socialistas não tomarem uma posição digna, clara, não haverá uma solução capaz de servir condignamente o povo grego. Muitos dos problemas que hoje estamos a viver devem-se, infelizmente, à falta de coragem dos governos socialistas europeus em serem fiéis aos seus princípios ideológicos, e a muitos líderes ditos socialistas que se renderam (outros venderam-se) ao capitalismo, verdadeiro vencedor na queda do muro de Berlim. Entregaram-se, muitos criminosamente, ao chamado capitalismo de rosto humano. Agora estamos à espera que o capitalismo se regenere?
    Os nãos podem não ser definitivos, quando há força para os contestar.
    "The times, they are a-changing," como cantava o Dylan.

    3. Neste momento em Viseu, não sabemos quem somos, nem para onde vamos.
    E não é a tristeza da cidade, pois esta continua belíssima...

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