3-D *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente 10 anos, em 15 de Abril de 2005



1. O título deste Olho de Gato, 3-D, tem a ver com o universo das imagens a três dimensões.

Os écrans têm duas dimensões: largura e altura; dar a ideia da terceira dimensão, dar ideia da profundidade, não é fácil. No tempo dos equipamentos analógicos, usavam-se uns óculos, com uma lente vermelha e outra verde, para ver fotografias e filmes a três dimensões. A ideia era fornecer duas imagens ligeiramente diferentes, uma para cada olho. Olhadas à vista desarmada, as imagens pareciam desfocadas e sem definição. Com os tais óculos, o cérebro do espectador processava as imagens em 3-D.
Fotografia editada
a partir desta da VIP/Impala

Tenho uma velha revista com fotografias 3-D, fotografias estereoscópicas, obtidas por duas máquinas fotográficas, a trabalharem em simultâneo, com uma pequena diferença focal. Nestas fotos “em relevo” é possível perceber a “profundidade de campo” de alguns modelos femininos muito bonitos e topográficos.
Em resumo, para explicar melhor o conceito, diria que, com aqueles óculos, é fácil constatar que uma imagem da Marisa Cruz tem muito mais “profundidade de campo” que uma imagem do João Pinto.

No cinema também houve incursões ao universo da 3-D, exactamente usando os tais óculos bicolores. Um exemplo clássico, é “A Criatura da Lagoa Negra”, um filme de 1954. Da experiência as pessoas não guardaram grande ideia: o uso dos óculos é difícil e uma maçada. Ainda por cima, o filme era de meter medo ao susto, não por ser um filme de terror, mas por ser mau.

2. Agora é possível tratar mais massa de informação. As pessoas têm acesso a câmaras de vídeo e a máquinas fotográficas que produzem imagem digitais, de duas dimensões, com boa definição e qualidade.

A capacidade desses equipamentos é aferida pelo número de pixels. Por exemplo, a minha máquina fotográfica tem 3,2 megapixels.
Dentro de algum tempo, em vez de pixels, estaremos a falar de voxels, unidade de informação volumétrica. A Light Space Technologies, tem um Depth Cube, com tecnologia de cristais líquidos, que já consegue converter 15,3 milhões de voxels (1024x748x20) em mais de 465 milhões (1024x748x608). Dá para perceber da qualidade das imagens produzidas e que são trabalháveis com a mesma intuitividade com que se trabalha em gráficos 3-D.

Para já, estas tecnologias serão limitadas a usos profissionais. Cirurgiões vão poder seguir, numa televisão 3-D, o percurso de um cateter num coração a pulsar. Não será ficção científica a ideia duma imobiliária, em Nova Iorque, poder proporcionar uma visita realista a um apartamento em Los Angeles ou em Lisboa.

Resta-nos esperar pela descida dos preços e por o que o pessoal vai fazer com imagens tão tácteis.

3. No dia 30 de Março, William Cristoll, um neo-conservador, editor da Weekly Standard, fazia um discurso sobre política externa no Earlham College, quando levou com uma tarte na cara. Cristol não deu parte de fraco. Limpou a cara com uma toalha de papel, e disse: «Deixem-me acabar este ponto.» Prosseguiu o seu discurso, respondeu a perguntas da audiência, e ficou ainda mais meia hora a conversar, nos bastidores, com alguns estudantes.

Dois dias depois, na Western Michigan University, Pat Buchanan, ex-candidato presidencial e também das direitas, quando já estava no período de perguntas e respostas, levou com maionese na cara. O atirador gritou: “Abaixo o fanatismo!”. Pat Buchanan acabou logo ali a sessão com um: «Obrigado por terem vindo mas eu vou ter que ir lavar a cabeça.»


Deve dizer-se que nem as tartes nem a maionese são grande coisa como argumento e não são defensáveis como ferramenta de debate.
Contudo, reconheça-se: uma dose de maionese é mais fulminante que uma tarte.

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