Nóvoa "ratoeirou" o PS?* — um texto de JB *

* Comentário de JB ao texto "Ligeirezas", publicado ontem no Jornal do Centro 

Não sei que te diga, caro amigo.

Não é de estranhar que as sondagens sejam embaraçosas para Costa. O eleitorado começa a preferir o original (Passos) à cópia e, para os que preferem esquecer, há sempre os Blocos, os Livres, o PCP e essa figurinha Chavez/português, de nome Marinho. Há vida na esquerda para além do Bloco e do PC, e acresce que estes dois, são simplesmente de protesto e nada adiantam às nossas vidas. Como diz o anúncio: ”E se de repente o “povo” lhes oferecer (à coligação) a maioria?”

Estamos irremediavelmente prisioneiros de teias de interesses obscuros, de classe e de família, que só um cataclismo social virá, mais tarde ou mais cedo, destruir. O eleitorado tem dúvidas quando: “Mário Centeno, o coordenador do programa macroeconómico do PS, vai ser mesmo orador convidado na Conferência Internacional sobre os Jovens, organizada pela Presidência, no âmbito dos Roteiros do Futuro”. Começa a ficar provado que Centeno é uma carta do mesmo baralho. Está já a fazer o tirocínio para ser o Vítor Gaspar do PS, numa versão recauchutada. Bem vindos ao neo-neo-realismo pós 25 de Abril...

Quanto a Sampaio da Nóvoa tem boas hipóteses de ir à segunda volta. Mas quanto a ser eleito Presidente já as perspetivas são bem diferentes. Nóvoa tem que concitar mais apoios e o entusiasmo. Somam-se indícios de que a candidatura em causa se está deixar envolver em algumas ambiguidades estruturais. Por exemplo, afirma-se como impulso regenerador da vida política e sente-se confortável com o apoio do PS, mesmo que ele não seja resultado de primárias; afixa uma imagem de independência, mas coloca-se na fila dos ex-presidentes que são militantes do PS como se fizesse parte dela; tenta sugerir-se como fator de congregação das esquerdas, mas revela-se cético quanto à perenidade da clivagem esquerda/direita; omite no seu discurso qualquer tonalidade crítica do sistema capitalista, mas assume objetivos que entram em colisão com a perenidade desse sistema; afixa uma independência altaneira em face dos partidos, mas esforça-se por sugerir o apoio tácito do PS.

Podendo parecer subtil, o PS parece ter-se deixado apanhar numa ratoeira. Deixa que pareça ter tido que engolir um candidato que veio de fora e não pode assumir o ónus de suscitar outro. Tudo isto faz recear que uma opção pelo candidato Nóvoa, tomada por uma decisão formal do PS, daqui a algum tempo, não seja seguida por uma parte do seu eleitorado, incomodada pelo método autocrático da escolha e pouco identificada afetivamente com ela. Se isso acontecer, fica à mostra o erro político cometido. Enquanto eleitor preciso de ver por completo apagada a dúvida, criada por Nóvoa, quanto ao seu próprio desígnio.

A direita anda nervosa, com a suposta ameaça de avançar com Rui Rio armado em 7º de cavalaria, com o "meio caminho andado", Marcelo Rebelo de Sousa ou a “reserva moral”, Mota Amaral, são sintomáticos que Nóvoa incomoda. Neste ponto considero que Marcelo Rebelo de Sousa não se candidatará, pois por muito popular que seja colou-se à imagem de comentador do regime e esse é o lugar que gosta de ocupar.

Neste contexto, e como já aqui escrevi, o meu candidato, seria Manuel Carvalho da Silva. Um candidato digno do lugar, que ilustraria com honra, competência, integridade, que procede do mundo do trabalho, é culto e representaria uma esquerda que não deslustraria o mais alto cargo da nação. Mas, aparentemente desistiu.

A candidatura de Guilherme d'Oliveira Martins encontra eco no texto de Joaquim Alexandre e, embora não fosse o meu primeiro candidato, reconheço que é um homem culto, honrado, sério, sensato, tem experiência política e ocupa uma posição mais ou menos central no espectro político. Sabe o valor da Língua Portuguesa, da Economia, do rigor, do combate à mediocridade e ao facilitismo, da solidariedade e da importância da tolerância e da preservação dos laços sociais e do bem comum, da igualdade e do acesso ao conhecimento.

António Costa, falta um ano para as presidenciais e faltam, só, seis meses para as legislativas. Falta “construir o futuro”!

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