Dois a zero*

* Publicado hoje no Jornal do Centro



1. Nos últimos anos, onze mil empresas gregas instalaram-se na Bulgária. Perante um eventual Grexit, elas trataram de se salvaguardar, visto que a cotação do lev búlgaro está alinhada já com o euro, o país tem uma dívida pública inferior a 29% do PIB e vai entrar na eurozona. Este movimento empresarial massivo procura também, claro, salários que são um terço dos gregos.

Como explica o blogue de esquerda “Vias de Facto”, a abordagem nacionalista do Syriza, com o seu referendo da tanga, foi e é desajustada perante a realidade transnacional / supranacional / multinacional (usar prefixo a gosto) em que se movimenta o dinheiro. Perante a mobilidade do capital, a mobilidade do trabalho através da emigração é virtuosa mas insuficiente.

Como se viu neste desgraçado meio ano syrízico, a esquerda patina quando se encerra na crítica paroquial contra o “capital financeiro” ou contra a “sra. Merkel e o sr. Schäuble” (agora mais ele que ela). Uma abordagem “patriótica” a fazer coro com a sra. dona Marine Le Pen não leva a lado nenhum.

Tal como é necessária democracia com a eleição do “sr. Europa”, também as lutas dos trabalhadores têm que se tornar supranacionais, com sindicatos europeus.


2. Taxas moderadoras na interrupção voluntária da gravidez, muito bem. Nem se percebe por que razão elas ainda não são cobradas.

Consultas psicológicas compulsivas, como querem o PSD e o CDS, muito mal. E anti-deontológico. Profissional que as faça contra a vontade da mulher, alegando o clássico “estou a cumprir ordens”, deve ser posto a limpar retretes em Nuremberga.



3. Mal um vip do PS-Viseu publicou no facebook a fotografia dos cabeças-de-lista socialistas das próximas legislativas, levou logo com o seguinte comentário: «não se vê ninguém de Viseu.»

Se for “facebookada” uma fotografia dos cabeças-de-lista da direita, o comentário será: «olha o Leitão Amaro, olha o José Cesário.»

Mota Faria, 2 — António Borges, 0

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