O fim do poder*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


Nas guerras assimétricas ocorridas entre 1800 e 1849, o lado que tinha menos homens e menos armas só atingiu os seus objectivos em 12% das vezes; já entre 1950 e 1999 a taxa de sucesso do lado mais fraco subiu para 55%. Cada vez mais são os Davids que derrotam os Golias. Esta “lei do mais pequeno” confirmou-se, na sua crueza terrível, nos acontecimentos de Paris da última sexta-feira.

Este processo de erosão do poder e de perda da vantagem da grande escala não se verifica só no universo militar, mas em todos os campos, desde a religião, à economia ou à política.

O “mercado das almas” está a ser ganho por pequenas igrejas que vão tirando fiéis aos milhões às grandes religiões. Mesmo o Islão está a fragmentar-se em milhares de interpretações antagónicas do Corão, feitas em madrassas e plataformas electrónicas.

Na economia o mesmo: as grandes corporações estão cada vez mais sujeitas a desastres reputacionais ou tecnológicos — vejam-se os casos da VW ou da Kodak. E, acossadas, elas precisam de adoptar estratégias comerciais de nicho para darem resposta aos pequenos.

Na política, a vantagem da dimensão também está em perda. Os micropoderes adiam, vetam, sabotam, ou torneiam a decisão política dos grandes. O sr. Costa, para manter o seu emprego, teve de ceder na TSU a Catarina e teve que devolver as greves nos transportes ao sr. Arménio da CGTP.

Todas estas ideias são desenvolvidas em “O Fim do Poder”, um livro de Moisés Naím. Quem o leu não liga nada ao especioso arrastar de pés que Cavaco está a fazer.

Temos um governo em gestão há 47 dias e o país está a funcionar. A Bélgica teve um 541 dias e tudo correu na perfeição. O impasse só acabou quando a Standard & Poor's decidiu baixar a notação da dívida belga.

Os políticos, coitados, dividem-se em dois grupos: os que sabem que agora podem cada vez menos e os que não sabem. Os primeiros fingem que podem, os segundos, à moda de Varoufakis, são um perigo.

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