Procusto*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Procusto tinha em sua casa uma cama de ferro para receber viajantes. Essa cama era uma bitola: o hóspede tinha de ser do exacto tamanho da cama. Se ele fosse maior, Procusto serrava-lhe as pernas, se ele fosse mais pequeno, Procusto esticava-o.

Este mito grego representa a intolerância perante a diferença. É uma parábola sobre a igualitarização compulsiva de tudo. Não faz mal nenhum lembrá-lo agora quando começam a chegar a Portugal refugiados, a quem é decente ajudar e a quem não é decente “serrar” ou “esticar” para encaixar à força na nossa “cama” de valores.

Esta interdição é, evidentemente, metafórica e bi-direccional — nem nós a eles, nem eles a nós. Principal melindre: a condição da mulher. Não podemos ceder nos avanços conseguidos na igualdade entre homens e mulheres.

Foi com muito sofrimento, coragem e determinação que se conseguiu vencer, nestas matérias, a oposição do Vaticano e dos estados do Islão que sempre se aliaram nos fóruns internacionais. “Santa aliança”, assim lhe chamou, com desagrado e conhecimento de causa, o ex-presidente da assembleia geral da ONU, Diogo Freitas do Amaral.**

Chegados a este ponto, resta dizer: defendo uma lei da república que proíba o uso da burca no espaço público. 
Fotografia daqui
E não, não acho que esta seja uma “lei de Procusto”. 
Ela não “serra” nem “estica” ninguém.

Fotografia daqui 
Só não tolera o intolerável. 
E vestuário para esconder o rosto é intolerável.

2. A reeleição de António Borges como líder distrital do PS teve resultados “norte-coreanos”: 94,71% no mapa distrital, 92% no site nacional do PS. 

Como a informação do partido não bate certo e é opaca, resta-nos fazer perguntas. Quantos eram os militantes com capacidade eleitoral no país, nos distritos e nos concelhos? Qual foi a abstenção nacional, distrital e concelhia?

Aquele chapéu em Lamego a transbordar de votos em António Borges, com uns espantosos zero brancos e zero nulos, quer dizer que os socialistas lamecenses o querem como candidato à sua câmara em 2017?

** Edição do Jornal Público, 16.07.1999

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