Hesite no Brexit*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. Setembro. As lojas, ainda no “regresso às aulas”, já suspiram pelo Natal. Chegam as contas dos cartões de crédito. O bronze empalidece. Os dias apequenam-se. Do Verão, quase a acabar, memórias.

2. Ia o Verão ainda só no seu terceiro dia quando os britânicos votaram Brexit. A votação mostrou um corte geracional: o voto dos velhos foi paroquial, o voto dos jovens foi cosmopolita.

Foi um abalo tectónico com epicentro no velho continente e sentido em todo o mundo. O Conselho Europeu de Relações Internacionais já recenseou trinta e quatro pedidos de referendo hostis à “Europa” em dezoito países diferentes; mesmo que cada um deles tenha só 5% de hipóteses de sucesso, a probabilidade de pelo menos um ser bem-sucedido é de 83%.

Num texto intitulado “Reversing Brexit”, Anatole Kaletsky desenhou o melhor plano que conheço para tentar pôr “o génio da desintegração [europeia] outra vez dentro da garrafa”.

Primeira prioridade: evitar o contágio; há um referendo em Itália já daqui a duas semanas, é importante derrotar os populistas eurocépticos.

Segunda prioridade: não ter pressa no Brexit; há que mostrar flexibilidade nas negociações pondo termo à rigidez estúpida dos burocratas de Bruxelas; no longo e hesitante processo que agora se inicia, há que persuadir com bons argumentos os eleitores britânicos; para isso, há que tratar não dos “termos da saída” com Theresa May mas sim dos “termos com que a maioria dos britânicos deseje ficar”. Desejo esse, claro, que depois terá que ser expresso em votação.
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3. Já só faltavam dez dias para o Verão acabar, quando, na CNBC, Mário Centeno confessou aos mercados globais aquilo que ainda não tinha confessado aos portugueses: a sua “principal tarefa” é evitar o segundo resgate.

Há aqui uma asneira histórica dentro da asneira política: o que há a evitar não é o segundo mas sim o quarto resgate da terceira república: 1977, 1983, 2011, 201?.

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