Ferro*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 27 de Abril de 2007


1. Depois da demissão de António Guterres, a política portuguesa passou dum ciclo de doçura “maternal” (o tempo da Expo, do diálogo e da distensão guterrista) para um ciclo “paternal”, crispado, em que já tivemos a “secura” de Manuela Ferreira Leite e agora temos a “determinação” de Sócrates.


Em 2002 acabou a festa. Ferro Rodrigues, que pegara no PS em condições muito difíceis, foi, na altura, muito criticado por causa de um seu cartaz que falava na “Mão de Ferro”. Ele tinha percebido o ”zeitgeist” e o cartaz sintonizava-se com o “ar dos tempos”. Os portugueses queriam então políticos duros. A avaliar pelas sondagens, parece continuarem a querer.


2. No nosso país é mais fácil abrir uma clínica que uma farmácia. Os governos dos últimos 40 anos, todos eles, têm-se “encolhido” perante este condicionamento comercial absurdo. É conhecida a anedota: «O melhor negócio em Portugal é uma farmácia bem gerida e o segundo melhor é uma farmácia mal gerida.» Não admira que o trespasse de uma farmácia atinja valores “pornográficos”.

Em 1997, o deputado socialista Strech Monteiro tentou enfrentar este cartel mas o seu Grupo Parlamentar não deixou.

Ferro Rodrigues, em 2002, defendeu a abertura de cem farmácias sociais e, por isso, sofreu uma campanha miserável feita pela Associação Nacional de Farmácias.

Em Maio de 2006, José Sócrates anunciou a intenção de liberalizar a propriedade das farmácias. A Assembleia da República acaba agora de autorizar o governo a legislar sobre o assunto. Vai deixar de ser preciso ter um canudo em farmácia para se poder ter uma.

É um passo no caminho certo mas que pede o passo seguinte: abrir o sector ao mercado e à concorrência. Isso é que era força perante os fortes. E defesa do interesse público.

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