Familismo*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Sem surpresa, o orçamento de estado foi aprovado esta semana, apesar do mal-estar que reina na geringonça.

Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936)

Há causas conjunturais para as esquerdas terem começado às cotoveladas entre si: os incêndios, Tancos, o Infarmed, a borla aos rentistas das eólicas, ...

E há três causas estruturais que listo por ordem crescente de importância:
(i) o trambolhão autárquico do PCP fez soar todas as campainhas de alarme no partido e fez acordar a CGTP da sonolência em que tinha caído;
(ii) com a saída anunciada de Pedro Passos Coelho, os partidos de esquerda perderam o “bode-expiatório” ideal para culpar de todos os males da pátria e, com isso, unir as suas tropas;
(iii) a geringonça teve pressa demais e já fez tudo o que assinou há dois anos; nunca teve grande projecto comum para o país, agora está sem nenhum.

Para já, o bloco e o PCP vão ser lobos na retórica e cordeiros nas votações no parlamento. A intervenção de João Oliveira, do PCP, no encerramento do debate do orçamento, já não conseguiu esconder esta esquizofrenia; Mariana Mortágua conseguiu ainda disfarçá-la com a força moral que lhe foi dada pela pirueta de Costa nas eólicas, mas no futuro o bloco vai soar também cada vez mais a falso.

2. Os trabalhadores do sector privado vão deixar de poder receber em duodécimos metade dos subsídios de férias e de natal. Em vez de alargar, como devia, essa opção ao sector público, o parlamento votou a proibição aos privados.

Já se sabe: em Portugal desama-se a liberdade e os políticos pelam-se por uma proibiçãozinha.

3. No concelho de Viseu, nas últimas autárquicas, no bloco, o mano deu lugar à mana na assembleia municipal; no PS, o marido foi a votos para a câmara, a esposa para a assembleia; assembleia onde se sentam também manos de ex e filhos de ex.

Entretanto, um irmão do número dois da distrital socialista quer ir para número um da concelhia.

Ninguém estranha tanto familismo?

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