#MeToo*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Num programa do Canal+ francês, um dos animadores, Laurent Bafie, na brincadeira, levantou um pouco a saia de Nowellnn Leroy e repetiu a graça resvalando a mão no joelho dela. A cantora riu-se muito, pegou-lhe na mão, disse que eram amigos há muito tempo e elogiou-o. De nada valeu. As redes sociais chamaram-no de tudo: «machista», «grande porco», «misógino», «grosseiro», por aí fora.

O actor Adam Sandler pôs a mão no joelho de Claire Foy numa entrevista na BBC. 
Daqui
A actriz emitiu um comunicado a dizer que não se sentiu nada ofendida. De nada valeu. Adam foi chamado de tudo nas redes sociais que, como se sabe, estão sempre a arder com uma indignação qualquer.

Só mais um caso. Em 2002, o político britânico Michael Fallon pôs a mão no joelho da jornalista Julia Hartley-Brewer. Esta mandou-o parar e ele parou. A seguir, pediu desculpas pelo incidente e reconheceu publicamente numa conferência que “tinha ultrapassado as marcas”. Só que agora, quinze anos depois, na sequência do movimento #MeToo, o caso borbulhou outra vez, e ele acabou por se demitir de ministro da defesa. A própria dona do joelho achou “doida” aquela demissão.

2. Tantos casos com joelhos fizeram-me lembrar o filme “O Joelho de Claire”, um dos seis contos morais de Eric Rohmer. A ligação é óbvia e deve ter ocorrido a muitos milhares de pessoas por esse mundo fora. Por exemplo, Paulo Almeida Sande já deu também este salto cinéfilo no Observador.

Vi esta obra-prima da nouvelle vague há mais de trinta anos numa sessão do Cine Clube de Viseu, ainda faltava muito para chegarmos ao neo-puritanismo hipócrita que estamos a viver agora. O protagonista do filme, um diplomata trintão chamado Jerome, passa umas férias fixado no joelho de Claire. Todo o filme é construído à volta dessa obsessão.

Ora, no velho Auditório da Feira de S. Mateus, quando Jerome, finalmente, pôs a mão no joelho de Claire, uma boa parte da assistência pôs-se a bater palmas de aplauso. Eu também.

Comentários

  1. Ah…os homens a desculparem-se uns aos outros…Pois.. Estas confusões são perigosas…
    Então aqui vão alguns pequenos extratos ao acaso:
    (para não citar as verborreias calamitosas e nojentas e humilhantes que nem se podem escrever aqui, que por vezes as mulheres vão ouvindo por essas ruas, com a complacência dos pares que muito se divertem com as façanhas destes idiotas e acéfalos… É mesmo assim…)
    “…problema é que as vítimas de assédio sexual ou estupro são, muitas vezes - e pelas próprias mulheres -, transformadas de vítimas a culpadas pela situação que viveram.”
    “Sofro com o assédio desde os 11 anos. Nessa idade, ao voltar da padaria, um carro passou perto de mim e o motorista gritou palavras de tão baixo calão que não ouso repetir. ….Mas ninguém deveria ter medo de caminhar na rua somente porque nasceu mulher”
    “Quando o patrão começou a pedir-lhe massagens, Rita, 27 anos, não estranhou. ….Até que, em vez das costas, pediu para ser massajado nas virilhas. Recusou e tentou encaminhá-lo para um colega, mas as visitas continuaram. …Quando ele começou a insistir que fosse ter a sua casa, recusou sistematicamente. Passado um mês, foi despedida sem justa causa….
    Esta ligeireza de achar que agora há um exagero e uma caça às bruxas ( ou bruxos) faz esquecer as realidades que são vividas por esse mundo fora por milhões de mulheres/ crianças… Um pequenino exemplo, apenas:
    “Menina morre na noite de núpcias Criança de 8 anos sofreu lesões graves após ser forçada a sexo com o marido, de 40 anos”

    Ler mais em: http://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/menina-morre-na-noite-de-nupcias
    Pois, senhor gato e se a humilhação ( assédio não é uma brincadeira) fosse com uma filha sua, com a sua mãe ou a sua mulher, gostava?

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  2. Senhor anónimo, diz muito bem: "estas confusões são perigosas"

    Na minha crónica conto três casos com um traço comum — as mulheres não viram mal nenhum no acontecido.

    O que o senhor traz é diverso, fez confusão, portanto.

    E, meis uma vez, concordo com o senhor: "estas confusões são perigosas".



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