Carlos Santiago*

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro


1. O escritor, dramaturgo e músico Carlos Santiago nasceu em Santiago de Compostela, mas é tão da Galiza como da nossa região, onde vem com muita frequência.

A sua peça “Tráfico”, que passou na Acert há um ano, foi o melhor espectáculo de teatro que subiu aos palcos do distrito em 2017. Em Maio fez um excelente monólogo em Viseu, na inauguração da galeria CAOS, mesmo atrás da Sé.


2. Na noite de sábado do carnaval deste ano, numa bela praça da sua cidade natal, Carlos, ataviado como o seu homónimo apóstolo Santiago, fez o mui aguardado “Pregón de Entroido”. Como é um soliloquista de eleição com décadas de experiência, ele pregoou coisas mui conformes com a liberdade desbundosa do carnaval.

Fotografia daqui


O jornal El Correo Gallego não esteve lá mas pôs um “jornalista” que assina com pseudónimo a contar tudo. À sua maneira. Emprenhou pelas orelhas com uns anónimos e contou o caso. À sua maneira.

Que o monologuista “fue muy duro” e fez “críticas muy groseras”.

Que o pregoeiro, com voz cheia de testosterona, aludira aos “huevos” de Santiago. Se foi aos próprios não foi gabarolice, Carlos é e sempre foi homem com eles no sítio, se foi aos do apóstolo, foi parábola, diria eu que não estive lá e, portanto, sei tanto como o “jornalista”.

Que, escreveu ainda a criatura que ninguém sabe quem é, “Carlos Santiago parece haber ido un poco más allá para, según denunciaron algunos de los presentes, rozar la grosería y la desvergüenza.”

Este artigo saiu da cloaca no dia 13. A seguir, viralizou. Outros jornais ecoaram a “notícia”, as sub-caves dos comentários online escorreram ódio, as redes sociais, como de costume, pegaram fogo.

Entretanto, o alcaide de Santiago, encomendador do pregão, e Carlos Santiago, o pregoeiro, já foram ameaçados de morte. E já apareceu uma associação de “abogados cristianos” que os quer levar a tribunal.

Vivemos tempos negros para a liberdade de expressão. Os identitarismos estão cada vez mais intolerantes e já nem as tréguas de carnaval respeitam.

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